Marcos Kostenbader Valle (Rio de Janeiro, 14 de setembro de 1943) é um compositor, cantor, instrumentista e arranjador brasileiro.
Considerado como um dos integrantes da segunda geração da bossa nova,
iniciou sua carreira artística em 1961 integrando um trio, juntamente
com Edu Lobo e Dori Caymmi. Nessa época, começou a compor suas primeiras
músicas em parceria com o irmão Paulo Sérgio Valle. O trabalho da dupla foi registrado, pela primeira vez, em 1963, com a gravação da canção "Sonho de Maria", pelo Tamba Trio.
Em 1963, gravou seu primeiro LP, "Samba demais", registrando suas
composições "Amor de nada", "Razão do amor", "Tudo de você", "Sonho de
Maria", "E vem o sol" e "Ainda mais lindo", todas em parceria com Paulo
Sérgio Valle, além das canções "Vivo sonhando" (Tom Jobim), "Moça flor", (Durval Ferreira e Lula Freire), "Canção pequenina" (Pingarilho), "Ela é carioca" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), "Ilusão à toa" (Johnny Alf) e "A morte de um Deus de sal" (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli). O disco foi contemplado com vários prêmios. Nessa época, começou a apresentar-se em shows e abandonou o curso de Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro no segundo ano.
Em 1965, participou do espetáculo "A bossa no Paramount", realizado no Teatro Paramount
(SP), no qual interpretou duas canções inéditas que se tornariam
emblemáticas em sua carreira de compositor: "Preciso aprender a ser só" e
"Terra de ninguém", ambas com Paulo Sérgio Valle. A segunda, contou com
a participação de Elis Regina,
então em início de carreira, alcançando, de imediato, enorme sucesso.
Nesse mesmo ano, lançou o disco autoral "O compositor e o cantor Marcos
Valle", com destaque para as canções "Gente", "Preciso aprender a ser
só", "Samba de verão", "A resposta" e "Deus brasileiro", todas com Paulo
Sérgio Valle. Ainda em 1965, viajou para os Estados Unidos, onde fez parte durante sete meses do conjunto de Sérgio Mendes, Brasil’65, com o qual se apresentou em casas noturnas, universidades e no programa de televisão de Andy Williams
(o qual gravou duas bossa nova, "Summer Samba (So Nice)" e "The Face I
Love (Seu Encanto)"). Também gravou um single com "All my loving", dos
Beatles, em ritmo de bossa nova. Após esse período, retornou ao Brasil.
Em 1966, a gravação de Walter Wanderley de sua música "Samba de
Verão" (c/ Paulo Sérgio Valle) alcançou o 2º lugar nas paradas de
sucesso norte-americanas, recebendo, mais tarde, em torno de 80
regravações nesse país. Nesse ano, Marcos começou a gravar as faixas do
que seria seu terceiro LP mas não concluiu esse trabalho. Voltou no ano
seguinte para os Estados Unidos e lançou nesse país o LP instrumental
"Braziliance! A música de Marcos Valle", registrando suas canções "Os
grilos", "Preciso aprender a ser só", "Batucada surgiu", "Samba de
verão", "Vamos pranchar", "Deus brasileiro", "Patricinha", "Passa por
mim" e "Se você soubesse", todas com Paulo Sérgio Valle, "Seu encanto"
(c/ Paulo Sérgio Valle e Pingarilho), "Dorme profundo" (c/ Pingarilho) e
"Tanto andei". Nesse mesmo ano, gravou outro LP, "Samba '68". Lançado
pelo lendário selo Verve, esse trabalho contém alguns de seus maiores
sucessos vertidos para o inglês, com arranjos de Eumir Deodato e
participação de grandes músicos norte-americanos. O próprio Valle cuidou
dos vocais principais em dueto com Annamaria de Carvalho Valle, então
sua esposa.
Porém, com saudades do Rio de Janeiro e assustado com a possibilidade
de ser recrutado para servir o Exército norte-americano na Guerra do Vietnã,
Marcos Valle desembarcou no Galeão nos últimos dias de 1967. Trazia
novas canções na bagagem e, no início de 1968 preparou um novo LP.
"Viola enluarada", exclusivamente autoral, tem como destaque a
faixa-título (c/ Paulo Sérgio Valle), cantada em duo com Milton
Nascimento, além de "Próton elétron nêutron" (uma primeira experiência
misturando baião e samba), "Maria da favela", "Homem do meu mundo",
"Terra de ninguém", "Eu", "Tião Braço Forte" e "O amor é chama", todas
com Paulo Sérgio Valle, "Viagem" (c/ Ronaldo Bastos), "Bloco do eu
sozinho" (c/ Ruy Guerra), "Réquiem" (c/ Milton Nascimento, Ruy Guerra e
Ronaldo Bastos) e "Pelas ruas do Recife" (c/ Paulo Sérgio Valle e
Novelli).
Em 1969, gravou o LP "Mustang cor de sangue", com destaque para a
faixa título, para o tema instrumental "Azimuth" e para a canção "Dia de
vitória", ambas com Paulo Sérgio Valle. Esse trabalho representa uma
mudança interessante de direção em sua carreira. A bossa nova vivia um
momento de baixa no Brasil e Marcos Valle tratou de caminhar em direção a
um pop cosmopolita. Uma influência presente desde sempre em sua vida: o
menino Marcos adorava ouvir música norte-americana no rádio e na
vitrola. Na adolescência, o rock'n'roll o conquistou a ponto de ele até
hoje citar "Be Bop a Lula" (de Gene Vincent) como uma das canções que o
marcaram no período. Com um enorme talento natural para criar grooves e apaixonado por ritmo, incorporou o soul norte-americano e a pilantragem de Wilson Simonal.
Longe da inocência juvenil dos primeiros anos de sua carreira, esse
novo Marcos Valle passou a ser associado à modernidade, à tecnologia e a
uma imagem de cidadão do mundo. Por sua vez, as letras de Paulo Sérgio
Valle passaram a adotar temáticas críticas. Disparando contra a
sociedade de consumo e a ditadura militar, os irmãos Valle produziram
algumas obras-primas nessa época. Infelizmente, esse lado de sua obra
não recebeu até hoje o devido crédito: Marcos Valle não se identificou
com o padrão "guerrilheiro" vigente na MPB a partir da Tropicália.
Descendente de alemães, loiro e tachado como "um bem-nascido
representante da elite carioca", suas provocações e contestações são
ignoradas por parte da crítica e do público. No livro "Eu não sou
cachorro não", de Paulo César de Araújo, sua canção "Flamengo até
morrer" foi descrita como "adesista" quando era exatamente o contrário:
uma ironia muito sofisticada à alienação causada pelo futebol nos
brasileiros.
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